Salários e Perspectivas

1. Panorama do mercado de trabalho

Segundo o relatório Perfil da Enfermagem no Brasil (COFEN/Fiocruz), cerca de 70% dos profissionais de enfermagem ganham menos de R$ 3.000 por mês, e mais de 280 mil ficam abaixo do salário mínimo. A Lei 14.434/2022 instituiu piso nacional de R$ 4.750 para enfermeiros, R$ 3.325 para técnicos (70 %), e R$ 2.375 para auxiliares (50 %), com carga de 44 h semanais. Esse piso já integra orçamento federal de cerca de R$ 11 bilhões para seu pagamento em 2025.

Contudo, muitos profissionais recebem valores abaixo do piso legal, especialmente onde os repasses ainda são insuficientes ou não regulamentados localmente.

2. Faixas salariais por nível e região

Nacional (mínimo legal)

• Enfermeiro: R$ 4.750
• Técnico: R$ 3.325
• Auxiliar/parteira: R$ 2.375 (44h semanais)

Considerando jornada de 30 horas (PEC 19/2024)

Caso seja aprovada jornada reduzida, os pisos seriam recalculados proporcionalmente. A PEC propõe enfermeiros com piso de R$ 7.315 (técnicos R$ 5.120; auxiliares R$ 3.657). Esse projeto ainda está em tramitação na CCJ do Senado.

Estimativa regional (com base em repasses e médias locais)

Embora não existam faixas regionais oficiais do COFEN, grosseiramente se observa:

• Sudeste e Sul tendem a pagar salários mais próximos ou acima do piso.
• Região Norte e Nordeste, muitas vezes valores abaixo do piso, especialmente em serviços municipais e estados com restrição orçamentária.
• Centro-Oeste, nível intermediário, com variação entre estado/município.

3. Relevância da educação continuada e certificações

A educação continuada é essencial para qualificação, atualização em normativas (como NR‑32, PCMSO) e tecnologias emergentes.

Certificações valorizadas no Brasil (especialmente Saúde do Trabalho, Prática Avançada):

• Certificado de Estudos Complementares em Enfermagem do Trabalho (COFEN).
• Especializações: Enfermagem do Trabalho, Saúde Ocupacional, Ergonomia aplicada, Suporte Básico/Avançado de Vida (BLS, ACLS).
• Prática Avançada de Enfermagem (PAE), crescente no Brasil, com enfermeiros navegadores, obstetrizes, estomaterapeutas e outros. Reconhecida como carreira com maior autonomia, melhores faixas salariais e reconhecimento profissional.

A Resolução COFEN nº 581/2018 estabelece que a educação permanente é compromisso ético do enfermeiro.

4. Tendências e futuro do setor

Inteligência Artificial e transformação digital

Estudos apontam que a IA está transformando o trabalho na América Latina, inclusive no Brasil, com impactos em gestão de saúde, atendimento e produtividade. O COFEN prevê que a IA não eliminará a categoria, mas que ela ficará mais qualificada e eficiente. Automação aplicada a processos bem estruturados melhora resultados; aplicada a processos deficientes, potencializa falhas. Aplicações potenciais incluem: triagem preditiva, prontuário automatizado, gestão de leitos, teleconsulta, auxílio diagnóstico.

Educação 4.0/Education 5.0

A evolução da educação para modos centrados no aluno com IA, simulação, EAD e metodologias ativas (Educação 4.0/5.0) impacta a formação dos profissionais, exigindo adaptação constante.

Expansão da Prática Avançada

A adoção de enfermeiros de prática avançada (PAE) traz maior autonomia, atuação em gestão clínica, educação e preceptoria. Áreas como atenção primária, gerenciamento de casos e alto grau técnico (geriatria, oncologia, urgência) ganham relevância.

5. Análise regional detalhada

Região	Situação salarial estimada	Certificações destacadas	Tendências locais
Sudeste	Próximo ou acima do piso	Especialização, PAE, saúde do trabalho	Telemedicina, uso de IA em grandes centros
Sul	Similar ao Sudeste	Enfermagem do trabalho, ergonomia	Protocolos digitais, saúde ocupacional avançada
Centro‑Oeste	Intermediário, mais perto do piso	PAE, suporte vital, EAD contínuo	Crescimento em hospitais privados e tele-enfermagem
Nordeste	Acima do piso em capitais; inferior em interior	Certificações básicas (BLS/ACLS)	Expansão de saúde digital, teleconsulta
Norte	Muitas remunerações abaixo do piso	Cursos EAD e base, primeiros socorros	Implementação de telemedicina, atuação em áreas remotas

6. Importância da certificação COFEN/COREN

O COFEN (conselho federal) regula a profissão nacionalmente, com Conselhos Regionais (COREN) em cada estado que fiscalizam, registram e aplicam normas. Registros no COREN são obrigatórios para atuação, renovação e certificações reconhecidas. O COFEN também monitora e apoia iniciativas como piso salarial, formação técnica e debates sobre práticas avançadas.

7. Considerações finais

A carreira de enfermagem no Brasil enfrenta desafios estruturais: muitos profissionais recebem menos que o piso legal, a jornada de 44 horas pesa, e há disparidades regionais significativas. No entanto, avanços como a aprovação do piso nacional, expansão da educação continuada e adoção da prática avançada oferecem caminhos para valorização profissional.

A educação continuada, alinhada às tendências tecnológicas e especializações, é fundamental para elevar salários, autonomia e eficiência. As certificações e especializações reconhecidas (como nas áreas de saúde do trabalho, PAE, BLS/ACLS) são diferenciais competitivos reais.

Perspectiva de futuro

• A IA será cada vez mais integrada aos processos de saúde, e a enfermagem precisará assumir papéis complementares, humanizados e centrados no paciente.
• A adoção de práticas avançadas deve se consolidar, abrindo novas carreiras clínicas para enfermeiros.
• A educação 4.0 e 5.0 exigem adaptação rápida às novas ferramentas digitais no ensino e prática profissional.